Ainda sobre a propriedade e sobre urbanismo

Neste post eu falei sobre a validade da propriedade quando não é feito uso dela. Achei por bem terminar o texto ali, mas na verdade o assunto continua. Mais precisamente, enquanto escrevia o outro texto, eu pensava nas invasões de prédios abandonados no centro da cidade.

Infelizmente eu tenho de conviver com gente desprezível, que só consegue apreciar o assunto da maneira mais superficial possível. Até por isso, quero tecer aqui meus pensamentos sobre o assunto, de maneira mais estruturada.

A questão da habitação é algo muito grave e complicado, por envolver o interesse, conflitante, de muitas pessoas. Sendo de origem conservadora e, em certa medida influenciado pelo convívio forçado com as tais pessoas desprezíveis, eu até entenderia o sentimento dos proprietários dos tais prédios invadidos. É claro que eu não gostaria que pessoas entrassem à força em minha casa, na calada da noite. Acontece que, na mais das vezes, esse não é o caso: os prédios estão abandonados, há anos descumprindo seu papel social, qual seja, o de prover habitação para pessoas. O fato de serem localizados em regiões nobres só faz aumentar a violência que é manter tais prédios desocupados.

Nesse sentido, a ocupação dos prédios abandonados toma um caráter de reapropriação mesmo. Porque não acho justo que o interesse de uma minoria, que frequentemente é uma minoria numérica que detém a maioria dos recursos financeiros da sociedade, prevaleça sobre o de uma grande maioria. E quando digo maioria não me refiro apenas aos ‘invasores’ e seus familiares: a questão da moradia impacta a todos que habitam a cidade.

Apenas para falar do aspecto de transporte, considere que ao se negar que inúmeras famílias habitem o centro, automaticamente força-se com que mais pessoas morem na periferia. E como a grande maioria dos postos de trabalho permanecem no centro, vc tem a falência da mobilidade urbana: os deslocamentos casa-trabalho se tornam enormes no espaço. Consequentemente, tais deslocamentos aumentam tb no tempo. Só que como o número de pessoas se deslocando tb aumenta, na realidade vc tem um aumento desproporcional do tempo de viagem (os famosos engarrafamentos). Isso independente de se falar em veículo particular (carro) ou coletivo público (ônibus). E ainda que quem tem condição de usar o carro, consegue chegar mais rápido; uma vez que investimentos em metrô (ou outros transportes sobre trilhos, que seriam os modos adequados ao transporte de grande volume de pax por distâncias consideráveis) por aqui são uma coisa de outro mundo. Além disso tudo, vc tem o custo (coletivo, pago por todos) de estender os demais serviços e equipamentos sociais para regiões mais periféricas… Enfim, é MUITO mais barato ocupar o centro, adensar sua habitação, do que não fazê-lo. No centro não pode haver um único metro quadrado desocupado, sob pena de desapropriação, penso eu. Na verdade, eu creio que o adensamento habitacional é a única maneira de melhorar a situação da ocupação de um espaço físico limitado.

Ainda sobre o título e sobre propriedade

No primeiro post eu falei de muitas coisas, os assuntos vão se costurando uns aos outros, mas não falei que a primeira ideia (cara, ainda não me acostumei com o fato de que ideia não tem acento…) de título para este blog tinha sido ‘o que tem pra hj’. Esse domínio, no entanto, já está registrado. O blog é até legal, além de ter sido criado por outro leonino, que tb não trabalha na área de formação. Eu acho incrível esse tipo de coisa, de imprevisibilidade de encontros da vida. É só o que pode nos salvar do tédio e angústia de liberdade a que somos condenados… Enfim, o tal blog já está abandonado, mas logo o primeiro post (na verdade o último postado) já me agradou. Eu gosto muito de bicicletas, e este será, possivelmente, um tema recorrente aqui.

A próxima opção óbvia para o título seria ‘o que tem pra hoje’, mas este tb já está registrado, desta vez com um blog dummy.Isso me faz pensar sobre a legitimidade da propriedade. No caso, a propriedade de um domínio na internet, algo abstrato, mas que no entanto pode ter implicações bastante reais, haja vista a economia que a internet move. Além do mais, a discussão se estende para qualquer propriedade: é válido a existência da propriedade?Eu penso que, até certo limite, sim. Mas, mais do que isso, eu penso que é impossível um mundo sem propriedades.

O tema é polêmico, principalmente porque o mundo, tal como o conhecemos, se baseia fortemente na propriedade. O comunismo tentou acabar com a propriedade, mas não deu certo. em grande parte, penso eu, por causa de como somos, como agimos: somos naturalmente negligentes com o que ‘não é nosso’, ao mesmo tempo em que nos dedicamos mais ao que ‘é nosso’. tanto que uma divisão psicológica forte é entre o eu e o outro, entre o nosso e os outros. Por isso que eu digo que, em certa medida, a propriedade é necessária. Ela nos dá alguma paz para podermos seguir adiante. Aliás, uma definição instintiva quase de propriedade é a daquilo que eu produzo com meu esforço ou trabalho, aquilo que eu mantenho. E é justamente aí que reside meu desconforto com a propriedade. Não vou nem falar da mais-valia, indevidamente apropriada pelos capitalistas. Mas me questiono a validade de se ter uma propriedade que não é mantida adequadamente.

Quem é e a que veio

É isso aí, criei outro blog!

Poderia-se dizer que essa é uma compulsão minha, algo como aquela pessoa que vira e mexe embarca numa dieta bizarra ou aquele conhecido que gosta de fazer listas (ou roteiros de viagem, ou copiar receitas… Não importa!) O que importa é começar algo novo, sentir, pelo menos nesses fugidios instantes iniciais, aquele fluxo de energia e euforia que te iludem a acreditar que DESSA VEZ tudo será diferente! hahaha

Mas não é o caso. Sendo já escolado nessa vida de criar blogs, eu sei que não deverei postar muitas coisas, nem com frequência. E, assim, eu anuncio a que veio este blog:

Essa história de criar coisas me lembra um (não sei se podemos chamar assim) hobbie de quando era criança: eu gostava de criar nomes de banda. Nunca cheguei nem perto de arranhar qualquer rudimento musical. Mas as bandas, ah as bandas, tinham nomes de sucesso! Com meus blogs tb é um pouco assim: uma grande parte da graça de ter um é batizá-lo. E este tem um nome que muito me agrada e, ao mesmo tempo, denuncia um pouco do que está por vir aqui (talvez): postarei coisas coloridas às vezes, por outras serão coisas divertidas; mas, no fundo, são todas coisas inúteis fúteis, assim como a vida.

Por outro lado, conhecendo a mim mesmo, pode ser que venham reflexões mordazes e ranzinzas, aliás, razão pela qual, efetivamente, resolvi criar o blog. Contraditório? Certamente, mas eu explico (ou tento): é que eu vinha publicando algumas dessas minhas críticas no face, mas, após refletir um pouco, pensei que aquele não era o melhor lugar. A blogosfera sim, é apropriada para esse tipo de texto. Ou hipertexto, mais especificamente. Sem dúvidas a maior maravilha desta mídia, a blogosfera e, por extensão, a internet, é a possibilidade de hipertextualização. E, numa manobra didática, eu já aplico uma espécie de metalinguagem (vcs viram que eu, marotamente, inseri um hiperlink falando sobre hipertexto na palavra hipertexto, né? hã? hã?)

É que aqui eu aproveito o ensejo para minimamente explicar esse conceito, básico na realidade, de hipertexto. É que tem um amigo meu, que certa vez zombou do conceito, dizendo que seria um texto comprido ou grande. É realmente bizarro como nossa memória funciona: provavelmente não foi bem assim, possivelmente ele estava apenas sendo zombeteiro como de costume, mas… ficou marcada em minha memória esses ‘fatos’: fulano. zombou. hipertexto. E, ao falar tudo isso, resolvo uma pequena dissonância cognitiva minha. Algo que, se tudo der certo, será salutarmente recorrente aqui. Por fim, isso descortina algumas outras coisas sobre o blog e sobre mim: ele será majoritariamente uma publicação para mim mesmo; eu sou muito complexado; esse amigo de quem falei tem uma influencia considerável sobre mim, não tanto porque concorde com ele, mas mais porque partilhamos uma profunda ranzinzice e amargor.